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Existe Liberdade Religiosa em Igual Medida em Países Cristãos e Muçulmanos?
Peter Riddell é Reitor do Centro BCV de Estudos do Islamismo e Outras Religiões, em Melbourne, Austrália.
Nos últimos 30 anos, tem havido um rápido e substancial crescimento das comunidades muçulmanas minoritárias em países ocidentais. A Grã-Bretanha é um caso concreto: em 1975, a comunidade muçulmana no Reino Unido somava apenas 400.000; em 2006, esses números haviam crescido para mais de dois milhões. Na Austrália e no Canadá, cujos recenseadores registraram a afiliação religiosa dos cidadãos, as comunidades muçulmanas haviam essencialmente dobrado nos anos 90.1 Além disso, crescimento semelhante pode ser visto em outros países ocidentais como França, Alemanha, Dinamarca, Holanda e Estados Unidos – mais evidência de um espírito de abertura e tolerância na maioria das sociedades cristãs com relação à presença de minorias muçulmanas em seu meio.
Em contraste, a história da presença cristã em países de maioria muçulmana de 1975 até 2006 é um conto de fugas.2 A comunidade cristã no Líbano, que representou a maioria ao longo da maior parte do século XX, agora constitui apenas 40% da população e continua a diminuir. A evasão da população cristã do Egito é bem documentada; o êxodo cristão pelas fronteiras do Sudão é uma questão de grande preocupação mundial, e a presença cristã na Terra Santa é sombra do que era antigamente. Em todos esses lugares, a pressão dos vizinhos muçulmanos é a maior causa da partida.
Os lugares de culto das minorias é outro tópico de interesse. Na Grã-Bretanha, o número de mesquitas cresceu de 18, em 1966, para bem mais de 1.000 em 2006. Isto inclui esplêndidas estruturas dominando o horizonte, como a Mesquita do Regents Park em Londres, as mesquitas centrais de Edinburg e Birmingham e a de East London, que anuncia a chamada islâmica à oração no coração de uma das maiores capitais da antiga cristandade. Semelhantemente, a maioria das 1.200 mesquitas dos Estados Unidos foram construídas depois de 1980, com financiamento da Arábia Saudita, na maioria das vezes.3 E talvez a afirmação mais surpreendente de construção muçulmana seja a proposta de uma mesquita com 40.000 assentos a ser construída próxima ao local das Olimpíadas de 2012 em Londres. Tal fato sinalizaria, para uma grande audiência televisiva, a poderosa presença do islamismo em uma das maiores cidades do Ocidente.4
Em contraste, os países de maioria muçulmana não estão nem de perto tão abertos ao estabelecimento e manutenção de locais de adoração dos não muçulmanos. A Arábia Saudita dá um exemplo gritante: a fatwa5 emitida em 3 de julho de 2000 pelo Conselho Permanente de Investigação Científica e Julgamento Religioso Legal (um órgão do Ministério Saudita de Doações Religiosas) apresenta uma visão sombria de outras religiões:
Qualquer lugar designado para adoração diferente do islamismo é um local de heresia e erro, pois é proibido adorar a Alá de qualquer outra forma do que o caminho que Ele mesmo prescreveu para o islã (...). A religião exige a proibição de descrença, e isso requer a proibição da adoração a Alá de outra forma que não aquela da shari’a islâmica. Inclui-se nesta proibição contra a construção de locais de adoração de acordo com a revogação de leis religiosas, os judeus ou cristãos ou qualquer outra (...).6
Esta mentalidade fechada não se limita aos sauditas ultraconservadores. Na Malásia, um país frequentemente considerado como a liderança no pluralismo islâmico, é muito mais fácil estabelecer e manter uma mesquita em funcionamento do que uma igreja. Por exemplo, em uma pesquisa de 1992 nos estados malaios de Johor e Perak, a proporção de mesquitas para adoradores era de uma para cada 800, enquanto que a proporção de lugares de adoração não muçulmanos para fiéis era de um para cada 4.000.7 No outro lado da península malaia, Abul Hadi Awang, ministro chefe do estado de Terengganu, rejeitou uma requisição católica para construir uma nova igreja; argumentou que uma torre e uma cruz seriam provocativas e que precisava dizer “não” em favor da segurança dos cristãos.8
O aumento do número de muçulmanos residindo no Ocidente e o rápido crescimento de mesquitas é acompanhado pelo estabelecimento de cadeiras e/ou centros de estudos islâmicos nas universidades ocidentais com financiamento de países muçulmanos. Na Grã-Bretanha, esse é o caso, por exemplo, da cadeira Rei Fahd de Estudos Islâmicos na Escola de Londres sobre Estudos Orientais e Africanos, bem como do Centro de Estudos Islâmicos em Oxford, afiliado à Universidade de Oxford. Nos Estados Unidos, a cadeira Rei Abdul Aziz em Estudos Islâmicos na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, tem sido financiada pela Arábia Saudita, e mais recentemente o príncipe saudita Alwaleed Bin Talal Abdulaziz al-Saud doou a quantia de 20 milhões de dólares para as universidades de Harvard e Georgetown para expansão de seus programas de estudos islâmicos.9
Naturalmente, cadeiras favorecidas por cristãos e programas de estudos cristãos nas maiores universidade de países como o Egito e Paquistão seria algo impensável. Mais uma vez, vê-se que a disparidade é surpreendente. Consequentemente, cristãos e governos ocidentais deveriam continuamente pressionar pela reciprocidade das nações muçulmanas. É justo, dada à grande liberdade e hospitalidade que o ocidente tem demonstrado às suas minorias muçulmanas.
1 |
Austrália (1991 – 147,500; 2001 – 281,000); Canadá (1991 – 253,265; 2001 – 579,645). Tradução livre.
| 2 |
“Christian Numbers on Decline in the Middle East,” National Public Radio: Talk of the Nation, March 8, 2006, http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=5251877 (acessado em 11 de julho de 2006). Tradução livre.
| 3 |
Paul Sperry, “U.S.-Saudi Oil Imports Fund American Mosques,” WorldNetDaily.com, April 22, 2002, http://www.worldnetdaily.com/news/article.asp?ARTICLE_ID=27327 (acessado em 10 de julho de 2006). Tradução livre.
| 4 |
“Giant Mosque for 40,000 May Be Built at London Olympics,” The Sunday Times, November 27, 2005, http://www.timesonline.co.uk/article/0,,2087-1892780,00.html (acessado em 10 de julho de 2006). Tradução livre.
| 5 |
Norma jurídica autorizada por um erudito islâmico.
| 6 |
“Special Dispatch Series - No. 1123: Official Saudi Fatwa of July 2000 Forbids Construction of Churches in Muslim Countries,” Middle East Media Research Institute Website, March 24, 2006, http://memri.org/bin/articles.cgi?Page=archives&Area=sd&ID=SP112306 (acessado em 10 de julho de 2006). Tradução livre.
| 7 |
Ng Kiok Nam, “Islam in Malaysia,” in Islam in Asia: Perspectives for Christian-Muslim Encounter, ed. J. P. Rajashekar and H. S. Wilson (Geneva: Lutheran World Federation, 1992), 100. Tradução livre.
| 8 |
Anil Netto, “Malaysia: PAS Winning Few Hearts so Far,” Asia Times Online, March 6, 2004, http://www.atimes.com/atimes/Southeast_Asia/FC06Ae04.html (acessado em 10 de julho de 2006). Tradução livre.
| 9 |
“Briefing No 42: Implications of Saudi Funding to Western Academic Institutions,” Institute for the Study of Islam and Christianity Website, February 7, 2006, http://www.isic-centre.org/briefing_detail.php?recordID=42 (acessado em 10 de julho de 2006). Tradução livre.
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