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Acervo da Revista Kairos

Mensagens Oportunas de Convidados Honrados

Enfrentando o Desafio do Islamismo Político, Militante e Estratégico: Parte II – A Resposta

Baronesa Caroline Cox de Queensbury

A capa da biografia Baroness Cox: A Voice for the Voiceless (Baronesa Caroline Cox: Uma Voz para os Sem Voz) traz essas palavras de tributo de Elena Bonner Sakharov, a viúva do físico nuclear e dissidente soviético Andrei Sakharov: “Ela tem presenciado seu sofrimento com seus próprios olhos, passou noites com eles em abrigos antiaéreos, (...) compartilhou seu pão, quando tinham, e chorou por seus filhos e maridos mortos.” Frequentemente presente nas linhas de frente do conflito, permanecendo com aqueles que sofriam injustamente, a baronesa Cox agora se une na luta contra o islamismo ressurgente e totalitário. Nesse sentido, é coautora, com John Marks (Ordem do Império Britânico), de The West, Islam and Islamism: Is Ideological Islam Compatible with Liberal Democracy? (O Ocidente, o Islã e o Islamismo: É o Islã Ideológico Compatível com a Democracia Liberal?)

As observações a seguir continuam o trecho da apresentação gravada da baronesa Cox no jantar de premiação da Revista Kairos em 2007. Tendo esboçado a terrível situação na Parte I, aqui sugere passos corretivos.

Construindo Pontes na Indonésia

Em resposta, sugiro uma estratégia. Antes de tudo, quando possível, devemos construir pontes, não muros. Um exemplo: tive a oportunidade de estar na Indonésia quando a jihad Laskar a atingiu, um grande momento no início deste século. A Indonésia havia tido um registro honroso de tolerância religiosa e diversidade cultural. Havia permitido aos cristãos estabelecerem-se e crescerem na áreas que escolhessem viver – até que a jihad internacional, de forma estratégica e militante, os atingiu na forma da Jihad Laskar.1 Eu estava em Ambon, nas exóticas Ilhas Spice, quando havia entre 4000 e 5000 guerreiros lá. Milhares de cristãos foram mortos; centenas de milhares deslocados.

Mas havia, e ainda há, muçulmanos moderados, os tradicionais líderes muçulmanos, que não gostam desta jihad, que querem normalizar as relações com os cristãos. Eles precisavam de ajuda porque também estavam sob ataque dos guerreiros. Assim, em Jacarta, lançamos uma nova organização, com um nome gigantesco. Chama-se Organização Internacional Islâmico-Cristã para Reconciliação e Reconstrução. Abrevia-se IICORR (International Islamic-Christian Organization for Reconciliation and Reconstruction). Seu presidente é Abdurrahaman Wahid, o antigo presidente da Indonésia (…). Quando lançamos essa organização em Jacarta, ele fez um discurso muito interessante, no qual disse que o islamismo moderno tinha que começar a pensar sobre reformas. Tinha que pensar sobre aquelas partes do ensinamento islâmico que eram compatíveis com o mundo moderno, e sobre aquelas partes que precisavam ser mudadas, ou talvez descartadas.

Agora, a maior parte dos muçulmanos que fazem afirmações como esta está em perigo real. Ainda assim, há muçulmanos que estão tentando pensar em formas de levar o islamismo para frente, em seu equivalente de reforma. Precisam de apoio; precisam de solidariedade. Estão vulneráveis, são corajosos e são nossa única esperança para o futuro, se vamos coexistir em respeito mútuo pacífico pelo direito de liberdade religiosa...

Resistência à Lei Shari’a no Ocidente

Temos que pensar estrategicamente em nossos países. Temos que olhar para as ameaças legais e assegurar que não cederemos mais território no âmbito judicial. Por exemplo, onde houver tentativas para impor a shari’a, embora sutis, temos que impedir. (...) Temos que proteger nossos valores e princípios fundamentais. Na Grã- Bretanha, não aceitamos a poligamia. É ilegal. Ainda assim, nossos assistentes sociais estão promovendo cuidado social para apoiar às viúvas em casamentos polígamos2 - e não somente a cônjuges em casamentos polígamos na Grã-Bretanha. Estamos enviando dinheiro ao exterior. Por que estamos implicitamente defendendo a poligamia?

Responsabilidade Financeira

Financeiramente falando, o custeamento islâmico da shari’a e de caridades está se expandindo e até sendo incentivado pelo nosso chanceler na Grã-Bretanha, nosso chanceler de Finanças. Temos que despertar. As caridades islâmicas não são como as cristãs. Em geral, as caridades ocidentais são muito bem controladas e têm que atingir seus objetivos humanitários. Muito do “dinheiro de caridade” islâmico pode ser destinado a financiar a jihad e, na verdade, é isso que faz. Por que estamos permitindo a subversão do dinheiro, de nossa assistência financeira, em nossas sociedades? Desperte, seja cauteloso, veja o que está acontecendo, interprete os sinais (...).

Atenção da Mídia

Um chefe de polícia em Katmandu disse certa vez para um colega meu: “Eu nunca colocaria um judeu na prisão sem um motivo justo porque o judaísmo internacional iria transformar minha vida em um inferno. Nunca colocaria um muçulmano na prisão sem justa causa; o islamismo internacional iria criar o caos. Não conseguiria sobreviver. Mas poderia colocar um cristão na prisão sem motivos justos, e ninguém diria nada – e é isso que eu faço.” Por que a nossa mídia, nossa mídia cristã, está silenciosa sobre os direitos dos cristãos praticarem sua fé e sobre os assaltos àqueles que estão na linha de frente da perseguição, permitindo que o islamismo militante se safe disto impunamente? (...)

Educação

Eu defenderia que devemos capacitar nossos estudantes - e talvez, de forma especial, nossos alunos de teologia - a entender os diferentes aspectos do islamismo. Gostaria que todas as faculdades bíblicas, seminários e faculdades teológicas ensinassem descrições sérias e sóbrias das diferentes formas do islã. Se não, como poderemos apoiar nossos irmãos e irmãs nas linhas de frente, mantendo a linha de fé e liberdade sob fogo para o restante de nós?

Nossos alunos estão mal equipados. No ano passado, conversando com um capelão católico romano em Kuala Lumpur, na Malásia, ouvi que é difícil para os alunos cristãos chegarem à universidade por causa da discriminação. Quando o fazem, são imediatamente alvejados por estudantes muçulmanos que fazem seu “dever de casa”. Esses estudantes muçulmanos convidam os cristãos para o debate. Desafiam-lhes porque “fizeram a lição de casa”. Trazem várias interpretações da Bíblia. Desafiam-lhes através da viagem da culpa pelas Cruzadas. Os cristãos voltam para o capelão católico romano, agredidos, com sua fé abalada e sua confiança completamente desfeita. O capelão confessa: “Não sei como ajudá-los, pois ninguém me ensinou sobre o islamismo. Então sou inútil para ajudá-los.” Por que permitimos que isso aconteça? É urgente que despertemos e usemos nossos sistemas de educação, nossas escolas bíblicas, nossas faculdades teológicas para equipar nossos alunos a entender o islamismo e a apoiar uns aos outros em resposta apropriada, com princípios e estratégicas, espirituais e intelectuais. (...)

Chamberlain ou Churchill?

Temos que perceber que estamos vivendo em tempos equivalentes aos anos 30. Estamos em um modo de apaziguamento, apatia ou complacência? Ou na frase usada por Peter Riddell em uma conferência na Inglaterra em 2006 “Vamos ser Chamberlains ou Churchills?”.3 Espero fervorosamente que despertemos a tempo, por que no momento, o relógio está correndo contra nós. Muito desta mudança é irreversível, na África e na Ásia, em nossos próprios países. Muitos já pagaram o preço final para que nós tivéssemos nossa herança espiritual e política de liberdade, democracia e fé. Seremos dignos dessa herança? Vamos passá-la completamente adiante, ou vamos deixá-la para o islamismo militante, político e estratégico?

Notas de Rodapé:
1

Veja Noorhaidi, “Laskar Jihad : Islam, Militancy and the Quest for Identity in Post-New Order Indonesia” (Dissertation), Utrecht University, http://igitur-archive.library.uu.nl/dissertations/2006-0705-200332/UUindex.html (acessado em 30 de abril de 2007). Tradução livre.

2

Cf. “Polygamous Husbands Can Claim Cash for Their Harems,” This Is London, April 17, 2007 http://www.thisislondon.co.uk/news/article-23393028-details/Polygamous%20husbands%20can%20claim%20cash%20for%20their%20harems/article.do (acessado em 30 de abril de 2007).

3

A autora traça, aqui, um interssante contraste entre dois personagens históricos do Reino Unido, ambos primeiro-ministros: Neville Chamberlain, que mantinha uma política de apaziguamento e de relações pacíficas com Hitler, a fim de evitar novos conflitos envolvendo o Reino Unido; e Winston Churchill, que o substituiu e liderou a Inglaterra na guerra à Alemanha nazista. (Nota do Tradutor).