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O Que há de Errado em Viver Junto sem Ser Casado?
Christopher Ash é diretor do Cornhill Training Course em Londres. É autor de Marriage: Sex in the Service of God (Casamento: Sexo a Serviço de Deus) - Nottingham, UK: InterVarsity Press, 2003), que contém uma discussão mais ampla dos assuntos deste artigo; e também de Out of the Storm: Questions and Consolations from the Book of Job (Fora da Tempestadade: Perguntas e Consolações no Livro de Jó) - Nottingham, UK: InterVarsity Press, 2004).
“Então, você pode me mostrar na Bíblia que o fato de eu estar vivendo com minha namorada é errado?”
Imagine que você fique sabendo que um jovem cristão em sua igreja está vivendo com sua namorada, sem serem casados. Quando você o desafia sobre isso, ele responde com a pergunta acima. Não é agressivo, embora talvez um pouco defensivo. Mas realmente parece querer saber a resposta. Não é cristão há muito tempo. Quase todos os seus colegas não cristãos estão morando com suas namoradas, e realmente não lhe ocorreu seriamente que isso fosse errado, e muito menos escandaloso. Então, o que deve dizer o seu pastor?
Não basta simplesmente mostrar-lhe textos do Novo Testamento proibindo a ‘fornicação’ (como aparece na maior parte das versões em português) ou a ‘imoralidade sexual’ (NVI), já que ele irá perguntar, bem razoavelmente, como sabemos que estes textos proíbem o viver junto sem ser casado. Na verdade, tenho certeza de que o grego porneia traduzido como ‘fornicação’ ou ‘imoralidade sexual’, no geral, se refere a toda intimidade sexual fora do casamento. Mas demonstrá-lo não é algo trivial.
“E afinal,” poderia o jovem dizer, “estamos vivendo como marido e esposa, a certidão de casamento é ‘só um pedaço de papel’. E não parece haver nada convincente na Bíblia que torne a cerimônia de casamento essencial. Então, o que estamos fazendo é moralmente responsável, e nada parecido com fornicação ou imoralidade sexual. Não estou pagando para ter sexo com ela, como um homem faz à uma prostituta. E não estamos quebrando os votos de casamento ao ter um caso. E não estamos escapando para encontros secretos de uma forma encoberta e vergonhosa. Pelo contrário, nos mudamos para viver juntos de forma bem aberta. Amamos um ao outro, e somos fiéis um ao outro. Então o que há de errado?”
É importante que nós, pastores, consideremos nossa resposta. Pois as questões desse jovem não são triviais. Não estamos dizendo que devemos casar porque somos conservadores sociais que preferem as antigas formas de fazer as coisas. Não temos um texto bíblico simples e convincente para citar. Eu mesmo duvido de se há alguma resposta que possa ser condensada em uma frase breve. Mas quero sugerir alguns argumentos em torno dos quais nossa resposta deve circular. São os seguintes:
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Jesus ensinou de forma clara e vigorosa que a relação sexual entre um homem e uma mulher deve ser fiel ao longo da vida. Não devemos separar o que Deus uniu (Mateus 19.6; Marcos 10.9). Qualquer relação sexual entre um homem e uma mulher que não seja acompanhada pela intenção da fidelidade durante a vida é, por definição, desagradável a Deus e imoral. Não é possível uma relação sexual ser moral e intencionalmente transitória. (É essencial à definição de casamento que ambas as partes comprometam-se à fidelidade ao longo da vida; o fato que, infelizmente, alguns casamentos se desfazem mais tarde não muda a realidade de que o casamento é sempre construído sobre esse compromisso.) Então há dois tipos de relação sexual, aquelas que são construídas sobre o compromisso da fidelidade para a vida, e aquelas que não o são.
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Há uma diferença muito grande entre um compromisso público e as promessas privadas. A diferença é não apreciá-lo como deve. Em nossa cultura do particularismo e individualismo, achamos que há pouca ou nenhuma diferença entre promessas particulares trocadas entre amantes no sofá e os compromissos públicos feitos diante de testemunhas (que é o casamento).
Mas de fato, há uma diferença muito grande. Uma promessa privada é, como infelizmente todos sabemos, terrivelmente fácil de quebrar. Afinal, quando é assim, é a minha palavra contra a dele (a) como o que foi dito exatamente. Minha reputação sofre perdas mínimas se eu quebrar uma palavra particular. MAS quando faço um compromisso diante de testemunhas, coloco toda minha integridade e reputação pública em risco. É isso que acontece em um casamento. Comprometo-me publicamente que serei fiel somente a esta mulher até que a morte nos separe. Todos sabem que fiz essa promessa, pois os votos matrimoniais (mesmo se feitos diante de poucas testemunhas) são ilimitadamente públicos. Quando digo às pessoas que sou casado, sabem o que isso quer dizer, por definição: que tenho um compromisso público de fidelidade por toda a vida.
Isso significa que concordo com o ensino de Jesus sobre o casamento e o divórcio. Ao comprometer-me publicamente com a fidelidade, concordo que nunca devo ser aquele que rompe o casamento. E, se rompê-lo (isto é, se eu for aquele que na verdade causa seu rompimento, não importando quem faz o processo legal do divórcio), todos saberão que quebrei meu voto. E minha reputação e integridade irão sofrer. Assim, as apostas são corretamente altas no casamento. Os votos públicos ligam minha integridade pública à manutenção do casamento.
Mas o “viver junto” nunca tem esse compromisso claro. Qualquer que sejam os entendimentos particulares que se fizeram (e esses variam grandemente), toda a relação está cercada por uma bruma pública de compromisso ambíguo. Quando uma mulher apresenta seu “namorado” ou “parceiro” (termo horrível), somos abandonados a imaginar qual seja a natureza de sua relação. Quando a coabitação se rompe, não sabemos quais os entendimentos particulares ou quais as promessas que foram quebradas e por quem.
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Além do mais, no casamento há uma clareza pública de que os votos foram feitos igualmente pelo homem e pela mulher, enquanto que muito frequentemente na coabitação há uma disparidade de expectativa. Normalmente (para não dizer sempre), a mulher espera que o relacionamento dure (e se convence de que seu homem se comprometeu com ela), enquanto que o homem encara todo esse negócio muito mais como uma relação do tipo “vamos ver como que rola”.
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Para os casais não casados, podemos, portanto, dizer: “Ou seu relacionamento é comprometido para a vida ou é imoral. Se não for imoral, você deve ser comprometido para a vida. Neste caso, você deve querer se levantar e dizer isto publicamente. Qual a razão para manter seu compromisso particular? Resposta: nenhuma. Pelo contrário, se realmente amam um ao outro, farão um compromisso público, uma vez que esse compromisso alinha os recursos das famílias e da sociedade por trás de vocês, prendendo-os a ele pela nossa expectativa de que vocês serão um homem e uma mulher de palavra. O compromisso público, portanto, apoia sua relação e a torna mais provável de ser duradoura (muito mais provável, como indicam as estatísticas). E se não estiverem dispostos a fazer esse compromisso, a única razão possível é que não estão realmente tão comprometidos assim e não amam realmente um ao outro. Neste caso, sua relação é imoral.”
Isso soa áspero, e deverá ser dito em um contexto de um pastor que ama e se importa; mas realmente precisa ser dito para qualquer casal que se professe cristão e que ache que é moral viverem juntos mesmo não casados. Pois, embora pensem amar um ao outro, na realidade não se amam muito – e certamente não o suficiente para tornar o sexo moral.
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