A Religião no Âmbito Público
Herbert London é presidente do Hudson Institute, alto consultor em politica pública, e editor da American Outlook. Seu livo mais recente é Decade of Denial: A Snapshot of America in the 1990s (Década da Negação: Uma síntese da América nos Anos 1990s; Lenham, MD: Lexington Books, 2001).
Duas ideias sobre a natureza humana rivalizam nos corações e mentes nos Estados Unidos. Numa antiga batalha intelectual, essas filosofias – uma antiga e a outra moderna – oferecem visões radicalmente diferentes para a sociedade, e carregam consigo grandes implicações para o presente da religião no âmbito público.
Para a maior parte, as democracias ocidentais surgiram da cosmovisão de Agostinho. Crendo que os seres humanos foram criados bons por Deus, mas caíram, o venerável bispo de Hipona via o poder terreno com uma medida apropriada de suspeita. Lord Acton, o grande historiador inglês e defensor da democracia, resumiu esta perspectiva quando pronunciou as famosas palavras “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.” Os fundadores quase que uniformemente aderiram a este ponto de vista. A Constituição, portanto, é um documento agostiniano baseado em forças compensatórias que se prestam a restringir o pecado original.
A filosofia moderna, no entanto, pode ser vista como uma tentativa prolongada de quebra deste entendimento clássico. Jean-Jacques Rousseau, filósofo cuja visão ajudou a inspirar a Revolução Francesa, defendeu que a liberdade representa a abolição de todas as dependências e formas de “escravidão”, tais como a da família e da religião. Mas assim como entendiam completamente os Fundadores dos Estados Unidos, sem essas alianças, sem a mediação das estruturas da família e da Igreja, o Contrato Social não pode existir.
É essa visão rouseauniana, portanto, que assombra a América do Norte contemporânea. Os fundamentos da organização social estão sendo desafiados a todo momento. Os que apoiam o casamento gay forçam uma agenda que irá cortar os laços da família. Os secularistas se opõem ao uso da expressão “Uma nação sob Deus” no Juramento de Lealdade. Defensores do aborto ao final de gravidez estão dispostos a exercer o infanticídio a fim de manter a liberdade pessoal.
A ordem social baseada na humildade diante de Deus tem sido reduzida a um materialismo básico. Isso me faz recordar as palavras de O’Brien no livro 1984, de Orwell: “Vocês estão imaginando que há algo chamado natureza humana que será ultrajada pelo que fazemos e que irá se voltar contra nós. Mas criamos a natureza humana. Os homens são infinitamente maleáveis.” Infelizmente, governos irrefreáveis pela crença religiosa invariavelmente tentam moldar a natureza humana. Mas, ainda que os seres humanos sejam maleáveis, certamente não são maleáveis de forma infinita. Quer se aceite ou não, parece de fato haver um “design inteligente” na natureza humana.
Einstein notou que a terra não era organizada com um simples jogar de dados, um momento ao acaso na criação. A religião alcança uma visão da natureza humana que esta além do material. De forma mais significativa, também é o antídoto para o solipsismo e para uma moralidade do “eu”. No final da década de 60, Jerry Rubin escreveu Do It! Se você se sente bem, faça o que quer que seja. Mas sentir-se bem e fazer o bem não são a mesma coisa. Uma sociedade baseada em um senso pessoal de satisfação não pode se autossustentar.
Semelhantemente, uma cultura que aceita qualquer coisa que produz riqueza irá finalmente se autodestruir também. Wilhelm Röpke, um eminente economista de livre mercado, escreveu “o mercado não cria valores, mas os consome e deve ser constantemente impregnado contra a deterioração.”
A escolha que se coloca diante dos norteamericanos é o avanço da deterioração ou da impregnação. Pode-se usar o valor do materialismo ou os valores que brotam da religião. Adam Smith, autor de Wealth of Nations (Riqueza das Nações) e algumas vezes descrito como o pai do mercado livre, também foi um filósofo moral. Reconhecia que o mercado livre sem o freio da virtude acaba tornando-se corrosivo.
De que raízes brota a virtude? A resposta é aparente para aqueles que sabem a história da fundação da nação. Também é aparente na ordem do universo e do design inteligente. Como notou Browning “Deus está em seu céu e tudo está certo com o mundo.” Bem, nem tudo pode estar certo, mas se Deus não estivesse em seu céu, com certeza tudo estaria errado.